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O vinho português na encruzilhada

O vinho é um dos produtos de consumo mais difíceis de criar, compreender, comunicar e vender.
 É, por isso, um dos derradeiros desafios em termos de design. A informação disponibilizada na garrafa, que poderia orientar a nossa escolha, por exemplo, num linear de supermercado, ou contribuir para uma fruição mais consciente das suas propriedades à mesa de um restaurante, nem sempre é a mais adequada. Escolhemos um vinho pela região, o produtor, a casta ou o blend de castas, a colheita, talvez a cor e, com muita frequência, pelo preço. Os alimentos que o acompanham, e as pessoas que nos acompanham enquanto o bebemos, são outros critérios recomendáveis e habituais. Mas, e o rótulo?

Um pouco por todo o mundo, e também em Portugal, têm emergido em anos recentes visões do vinho por vezes conflituantes: partindo ou não de uma noção de terroir, valorizando ou não uma certa autenticidade de processos, invocando, ou nem por isso, a sustentabilidade, todas procuram a verdade do vinho. Os vinhos expostos nesta estante podem ser descritos, ou não, como vinhos “de país,” de terroir, biodinâmicos, naturais, icónicos ou de “mass market”; como oriundos de regiões esquecidas e recuperadas; como criações de “new kids” ou vinhos que criam a sua própria autenticidade.

Este artigo pretende mapear, através destes 50 retratos vínicos, a correspondência entre uma ideia de autenticidade e um conjunto de materializações visuais que de forma mais ou menos consciente, estratégica, sofisticada ou qualificada, a pretendem manifestar. No fundo, queremos proporcionar-vos um retrato matizado e contemporâneo da expressão latina in vino veritas: uma “verdade do vinho” atomizada, parcelar, insuficiente, subjetiva, mas tão viva como a nossa paixão por este produto milenar.

Este texto é uma sinopse do artigo, composta para a exposição Fazer #1. O texto completo deste e de outros artigos da edição #1 da Fazer ficará disponível para leitura e partilha online quando a revista impressa esgotar.

Lista de vinhos seleccionados para a exposição Fazer #1, comentados por Luis M. Jorge


A Palheira Tinto 2019

António Madeira
Dão
Enólogo: António Madeira
Design: António Madeira, António Rodrigues
É típico dos vinhos de certas regiões de França, como a Alsácia e alguns crus de Beaujolais, que os rótulos adoptem a mesma fonte, para facilitar a identificação. Em Portugal esse recurso também existe. Neste exemplo, o lettering tradicional do Dão é integrado por António Madeira como um certificado de autenticidade.

Adega Mayor Reserva Tinto 2021,
Reserva Branco 2021,
Esquissos Tudo ao Molho 2021

Adega Mayor
Alentejo
Enólogos: Rui Reguinga, Carlos Rodrigues
Design: Ana Cunha
A Adega Mayor teve a ideia inspirada de divulgar em rótulo o espólio fotográfico de Artur Pastor, grande fotógrafo das profissões portuguesas nos anos 40 e 50 do século passado. Uma excelente oportunidade para recordarmos que por detrás de um bom vinho há muito trabalho.

Arinto dos Açores 2022

Azores Wine Company
D.O. Pico
Enólogo: António Maçanita
Design: António Maçanita
Os Vinhos Denominação de Origem Pico têm quase todos a mesma garrafa, que é parecida – mas não igual – à de Vinho Verde. Esta é, por sua vez, semelhante às dos vinhos da Alsácia mais altas, finas e frágeis que as de Bordéus, por exemplo. Esse detalhe de design permitia o seu transporte em maior número nas barcas que navegam as calmas águas dos rios Reno e Mosel. Nada que ver com as ondas do Atlântico. Neste Arinto dos Açores, uma garrafa que é mais forma que função alia-se a um tipo de letra tipo banda grunge – para dar rosto a um vinho de uma adega com menos de uma década.

Arrepiado Tradição Tinto 2018, Riesling 2018

Herdade do Arrepiado Velho
Alentejo
Enólogo: António Antunes
Design: Marta Neto
A Herdade do Arrepiado Velho conseguiu algo raro na cansada paisagem vitivinícola alentejana uma gama que nos estimula pelo design. Indo buscar a tradição a elementos da propriedade – portões, azulejos – deram um salto criativo através do seu uso em padrões coloridos que seduzem os consumidores em idade activa.

Borba Reserva Rótulo De Cortiça 2018

Adega de Borba
Alentejo
Enólogo: Óscar Gato
Design: Fundadores da Adega Cooperativa de Borba
Antes de haver branding nas adegas cooperativas, já havia o Borba Reserva, com o seu famoso rótulo de cortiça. Sustentável antes de haver sustentabilidade, que conseguiu unir a tradição e a inovação numa imagem reconhecida e respeitada por todos.

Casal Figueira Tinto 2019, António Branco 2019

Casal Figueira
Lisboa
Enóloga: Marta Soares
Design: Marta Soares
António, o produtor destes vinhos, ressuscitou uma casta quase extinta na Serra de Montejunto e morreu durante os trabalhos da quinta. A sua mulher, a artista plástica Marta Soares, continuou o seu trabalho, assegurando também o design do vinho. Essa história de amor complexa desponta em rótulos que parecem pinturas expressionistas.

Chaminé tinto 2019, 2020

Cortes de Cima
Alentejo
Enóloga: Anna Jorgensen
Design: Frame Creative (2019), Ophelia (2020)
Houve uma altura em que muita gente em Portugal afirmava que “os bons vinhos tinham sempre rótulos feios.” Cortes de Cima foi um, entre um punhado de produtores, dos que mais cedo contribuíram para ultrapassar este infeliz preconceito popular. O produtor, que já tinha inovado nos seus rótulos originais, fez há pouco tempo um rebranding que corresponde a um realinhamento da marca, agora cada vez mais próxima de um ideal de baixa intervenção e mais visível em plataformas online.

Clarete 2022, Palhete 2022, Branco 2022, Vinhas Velhas Branco 2021, Castelão 2019, Ânfora Branco 2020, Ânfora Tinto White Negra Mole 2021, Branco Especial 2018

Morgado do Quintão
Algarve
Enóloga: Joana Maçanita
Design: Leonel Duarte
Com a sua galeria de vinhos de rótulos geométricos, contidos, elegantes e coloridos que traduzem habilmente o conteúdo de cada garrafa, este produtor recebe-nos como num museu de arte moderna. Alguns dos rótulos resultam de peças criadas por artistas convidados a fazer uma residência artística na Herdade, onde dialogam com a obra da sua fundadora, a artista Teresa Vasconcellos. Exemplo disso são este Castelão ‘19 (Teresa Vasconcellos) e Vinhas Velhas Branco ‘21 (Tomás da Cunha Ferreira). São vinhos em que apetece repousar, e assim honram uma região que bem precisa que a notem.

Conceito Bastardo 2017

Conceito
Douro
Enóloga: Rita Ferreira Marques
Design: João Noutel
Os vinhos Conceito tornaram-se conhecidos pelo uso misterioso de formas geométricas e ilustrações enigmáticas, muitas vezes em torno de um círculo vazio, rodeado de pormenores. São vinhos provocadores, cuja imagem convive estranhamente com o seu classicismo organoléptico.

Cortes de Cima tinto 2019, 2020

Cortes de Cima
Alentejo
Enóloga: Anna Jorgensen
Design: Paal Myhre, MyhreDesign (2019), Frame Creative (2020)
↗ Chaminé

Dão Colheita Seleccionada Branco Pingo Doce 2020

Pingo Doce
Dão
Enólogo: Miguel Oliveira
Design: Rita Rivotti Design
Não queríamos fazer esta exposição sem um vinho de marca branca, criado e comercializado por uma grande superfície. Criar uma marca que vive principalmente do preço não é fácil, mas este Dão do Pingo Doce equilibra bem uma imagem sem pretensões com uma execução gráfica cuidada que tranquiliza o consumidor.

Drink Me Nat Cool 2020

Niepoort
Bairrada
Enólogos: Dirk Niepoort, Luis Pedro Candido da Silva
Design: Francisco Providência (rótulo inicial)
Um “vin de copains” para os novos tempos de baixa intervenção, gluglu, com um packaging à altura das necessidades que preenche. A garrafa é de litro e os rótulos das várias colheitas resultam de um concurso de ideias a partir de uma base idealizada pelo designer Francisco Providência.
↗ Espera Nat Cool

Ducking Brut Pet Nat Branco 2022

João Pato a.k.a. Duckman
Bairrada

Enóloga: Maria João Pato

Design: Maria João Pato
Luis Pato, Filipa Pato e João Pato a.k.a. Duckman. Três exemplos surpreendentes que nos mostram como é possível desdobrar uma marca familiar em vários segmentos de mercado, dois produtores e posicionamentos diferentes, com actores de várias gerações, sem nunca perder o dinamismo ou a percepção de qualidade. Tudo isso, graças a um pato e muito talento.
↗ Filipa Pato 3B; Luís Pato Parcela Cândido

Espera Nat Cool Castelão 1L 2022

Espera
Lisboa
Enólogo: Rodrigo Martins
Design: Nauvegar, Ana Leal (ilustração)
Este é um dos casos aqui expostos de integração da marca Nat Cool numa identidade forte, que usa a ilustração para ilustrar um conceito de slow wine, caro a este produtor. Criado pelo reconhecido enólogo de Alcobaça Rodrigo Martins, no âmbito do seu projecto Espera, este vinho evoca a técnica de bica-aberta desenvolvida pelos monges cistercienses.
↗ Drink Me Nat Cool

Esporão Reserva Tinto 2021

Esporão
Alentejo
Enólogos: David Baverstock, Sandra Alves
Design: Studio Eduardo Aires
A Herdade do Esporão foi, a partir de 1985, uma das primeiras marcas de vinhos portuguesas a encomendar ilustrações a artistas de renome para adornar os seus rótulos. A exemplo do que fizeram em França produtores como a Mouton Roth­schild, que iniciou as suas colaborações em 1945. Este Reserva Tinto de 2021 foi ilustrado por Abel Mota, o mais novo artista a ser convidado por este produtor.

Erro 4 tinto 2017, Erro B branco 2020

Quinta do Mouro
Alentejo
Enólogo: Miguel Louro
Design: Miguel Louro
A Quinta do Mouro pertence, com a Herdade do Mouchão e outros dois ou três produtores, a uma pequena elite de produtores alentejanos, tradicionais e muito prestigiados. Por isso mesmo é muito refrescante que tenham virado do avesso toda a solenidade dos seus rótulos dourados, numa série de vinhos frescos e desconcertantes.

Fabelhaft 2021

Niepoort
Douro
Enólogos: Dirk Niepoort, Luis Pedro Candido da Silva
Design: Cordula Alessandri
Na abordagem excêntrica e divertida que caracteriza o produtor, este rótulo da designer vienense Cordula Alessandri aproxima-nos da BD, tornando bem reconhecível um vinho cuja imagem perdeu toda a solenidade hierática dos clássicos do Douro mas nem por sombras descurou o rigor da vinificação.

Filipa Pato 3B Blanc de Blancs Bruto Natural 2001

Filipa Pato & William Wouters
Bairrada
Enólogos: Filipa Pato, William Wouters
Design: João Noutel
↗ Ducking Brut Pet Nat; Luís Pato Parcela Cândido

Garganta Funda 2019

Indício Wines
Douro
Enólogos: Marco Lourenço, Alexandre Botelho
Design: Miguel Carneiro, Oficina Arara
De uma colaboração estreita entre os dois amigos que o produzem e a Oficina Arara, que concebeu os rótulos, surgem estes vinhos que vivem na prateleira como cartazes numa parede de rua. As ilustrações provocadoras de Miguel Carneiro parecem evocar máscaras africanas, algo primitivo e tribal que quase nos obriga a provar.
↗ Indício

Granito Cru Alvarinho 2017

Luis Seabra Vinhos
Vinho Verde
Enólogo: Luis Seabra
Design: Alejandra Jaña
Ninguém levou o minimalismo tão a sério como Luís Seabra. Os seus vinhos, todos iguais, só se distinguem pelo preço, origem e qualidades organolépticas.

Humus Tinto 2018

Encosta da Quinta
Lisboa e Vale do Tejo
Enólogo: Rodrigo Filipe
Design: Rodrigo Filipe
A rejeição do design está muitas vezes associada a uma rejeição da industrialização. É um traço comum entre produtores de vinhos naturais desde a origem do movimento em França, na região de Beaujolais. Além de favorecerem as leveduras indígenas e reprovarem o abuso de sulfitos, produtores como a Humus facilmente dispensariam, se pudessem, qualquer trabalho de marca e outras perversões do capitalismo.

Indício Tinto 2019, Branco 2019

Indício Wines
Douro
Enólogos: Marco Lourenço, Alexandre Botelho
Design: Miguel Carneiro, Oficina Arara
↗ Garganta Funda

Julia Kemper Branco 2017

Julia Kemper Wines
Dão
Enóloga: Julia Kemper
Design: Paal Myhre
Num país em que os produtores de vinhos de baixa intervenção parecem ter orgulho em desenhar rótulos num programa caseiro da Microsoft durante o intervalo das vindimas ou em delegar essa tarefa a jovens okupas altermundialistas, Julia Kemper distinguiu-se, desde o princípio, por fazer vinhos orgânicos com uma imagem tão cuidada como a sua enologia. Nada, nos seus rótulos, grita “freak,” “trendy,” “Brooklyn,” “bué moderno” ou “East Berlin.” São apenas óptimos vinhos, clássicos, para quem os pode pagar.

Kompassus Reserva Branco 2020

Kompassus
Bairrada
Enólogo: Anselmo Mendes
Design: Filipe Moço
João Póvoa, é um dos mais carismáticos produtores da Bairrada – e do país. Em 2012 este médico oftalmologista de Coimbra criou a sua segunda adega, a que chamou Kompassus, para a qual chamou o conhecido enólogo Anselmo Mendes. Os rótulos, criados pelo designer Filipe Moço, destacam-se pelos seus motivos abstratos e sobretudo pela forma sofisticada como tiram partido da textura do papel e de técnicas especiais de impressão.

Lisboa Fernão Pires 2020

Hugo Mendes
Lisboa
Enólogo: Hugo Mendes
Design: César Duarte
Criar uma região de raiz tem sido um desafio a que os produtores de Lisboa respondem de modo muito variado. Os vinhos de Hugo Mendes conseguiram impor uma identidade única recorrendo à ilustração e a figuras icónicas da capital, como varinas e fadistas, sempre com humor.

Luís Pato Parcela Cândido

Vinha Formal Cercial branco 2021

Luís Pato
Bairrada
Enólogo: Luís Pato
Design: Studio AH–HA
↗ Ducking Brut Pet Nat; Filipa Pato 3B

Malmsey 1991

Cossart Gordon
Madeira
Enólogo: Francisco Albuquerque
Design: OM Design, Madeira Wine Company

A tradição dos rótulos escritos, ou pintados, manualmente em stencil é aqui homenageada numa recriação contemporânea, que tenta recapitular a imagem dos vinhos da Madeira de antigamente.
↗ Sercial

Mateus Rosé 2021

Mateus Rosé – Sogrape
Douro
Enólogo: Diogo Sepúlveda
Design: Stranger & Stranger
Nenhuma exposição sobre marcas de vinho portuguesas ficaria completa sem um Mateus Rosé, o primeiro e mais vasto exemplo de internacionali­zação do país, num segmento, o rosé, em que os nossos pergaminhos deixam algo a desejar. Tudo nesta marca, desde o nome sibilante, o formato da garrafa, o rótulo e a cor do líquido, tão distante do salmonado provençal, contribuem para o seu reconhecimento mundial.

Medieval de Ourém 2016

Lés-a-Lés Vinhos
Encostas d’Aire
Enólogos: Jorge Rosa Santos, Rui Lopes
Design: Rita Rivotti Design
Selecionámos os Lés a Lés porque este produtor, que faz vinhos de castas antigas e estilos diversos em várias regiões do país, consegue, através do design, manter o reconhecimento e coerência da marca sem sacrificar nada da diversidade e riqueza da gama.

Menina d’Uva Ciste 2021

Menina d’Uva
Trás-os-Montes
Enóloga: Aline Domingues
Design: Mariana Rio
O nome parece querer levar-nos para uma parábola coquete à Eric Rohmer, mas a ilustração traz-nos de volta à terra e à alegria de viver, numa execução tão simples, tão directa como este vinho delicioso.

Monda Branco, Monda Tinto 2021

Aprt3
Província de Setúbal
Enólogos: Diogo Yebra, Luís Formiga, Guilherme Maia
Design: Cara Trancada (Branco), Binau (Tinto)
Estes vinhos estão tão afastados de qualquer noção de terroir ou identidade regional que só podem ter sido feitos, pensámos, para expatriados e nómadas digitais. Uma impressão que foi confirmada há dias num restaurante do Príncipe Real muito favorecido por jovens anglo-saxónicos. É uma nova página que se vira para o vinho português.

Monte da Peceguina Tinto 2003 e 2020

Herdade da Malhadinha Nova
Alentejo
Enólogos: Luís Duarte, Nuno Gonzales
Design: Bruno Andrade (2003), Studio Eduardo Aires (2020)
Eis um bom caso de diferenciação criativa. Os rótulos partiram de ilustrações feitas por crianças da família da produtora (neste caso de Francisca Soares), o que seduziu o mercado numa fase de lançamento da marca e gerou uma notoriedade preciosa.

Moscatel de Setúbal Superior 2009

Casa Ermelinda de Freitas
Península de Setúbal
Enólogo: Jaime

Quendera

Design: Paal Myhre
Nenhuma resenha de vinhos portugueses ficaria completa sem uma criação de Jaime Quendera, o grande empresário de vinhos da península de Setúbal. Amado e odiado em partes iguais, o seu trabalho incontornável aparece aqui em mais uma manifestação para as massas, com texto decorativo e néctar tão doce como o seu sorriso a caminho do banco.

Mouchão Tinto 2016

Herdade do Mouchão
Alentejo
Enólogo: Paulo Laureano
Design: UMA Brand studio
Um daqueles casos, comuns no mundo dos vinhos portugueses, em que o patinho feio ocultava a promessa, talvez não de um cisne, mas de uma elegante ave pernalta. Quem conheceu o Mouchão dos anos oitenta sabe os riscos que a marca conseguiu evitar.

Palácio da Brejoeira Alvarinho branco 2022

Vinalda
Vinho Verde
Enólogo: João Garrido
Design: Maria Hermínia Silva d’Oliveira Paes
Há pouco uso em Portugal do formato das garrafas para criar diferenciação, ao contrário do que acontece em França, onde nos é possível distinguir um vinho de Bordéus, Borgonha, Alsácia e Jura só pelo formato da garrafa, por exemplo. Uma boa excepção é a do vinho verde, em que o exemplo de garrafa alta semelhante à da Alsácia se conseguiu impor na região.

Papa-Figos Tinto 2021

Casa Ferreirinha – Sogrape
Douro
Enólogo: Luís Sottomayor
Design: Rita Rivotti Design
Outro fenómeno de popularidade impressionante da Casa Ferreirinha é o Papa-Figos, um vinho que se tornou um fenómeno de vendas universalmente apreciado por uma classe média pouco enófila. Tudo neste vinho, desde o nome à ilustração cuidada, parece ter sido pensado para projectar conforto burguês a um preço que os portugueses podem pagar.

Pêra-Manca Branco 2020

Fundação Eugénio de Almeida
Alentejo
Enólogo: Pedro Baptista
Design: Pedro Albuquerque, Albuquerque Designers
Com gravura do ilustrador inglês Bill Sanderson feita a partir de um cartaz publicitário do pintor português Alfredo Roque Gameiro, acreditamos que algo do prestígio do Pêra-Manca, marca icónica em Portugal, advém desta longevidade do seu design.

Proibido À Capela Tinto 2020

Márcio Lopes Winemaker
Douro
Enólogo: Márcio Lopes
Design: Gustavo Roseira
Nada é mais caótico do que a hierarquia de marcas (se é que existe) dos vinhos de Márcio Lopes, produtor de algumas coisas notáveis. Cada terroir tem o seu vinho, com uma imagem completamente diferente da do anterior. Neste caso escolhemos uma ilustração misteriosa a acompanhar um nome intrigante. Porque, enfim, tínhamos de escolher alguma coisa.

Quinta da Pellada Primus Branco 2021

Quinta da Pellada
Dão
Enólogo: Álvaro Castro
Design: Álvaro Castro
É comum, entre enófilos, colocar o Primus no petit comité dos melhores brancos portugueses. Isso significa, evidentemente, que as qualidades organolépticas de um vinho ainda têm algum relevo. Porque, sejamos francos: se algo, num invólucro tão feio, consegue ser tão apreciado, a lição a tirar é que o design pode ser muito importante, mas a melhor parte de um vinho ainda está dentro, não fora, da garrafa.

Quinta de Lemos Jaén 2007

Quinta de Lemos
Dão
Enólogo: Hugo Chaves

Design: Francisco Providência

Num país em que a coerência das marcas é tantas vezes sacrificada aos caprichos dos stakeholders, é bom encontrar cada novo vinho da Quinta de Lemos, sempre com o seu pequeno motivo floral desenhado na garrafa como uma janela para Dão.

Quinta Várzea da Pedra Fernão Pires 2021

Quinta Várzea da Pedra
DOC Óbidos – Lisboa
Enólogo: Rodrigo Martins
Design: Tomás Emídio
Neste caso de serendipidade, o designer que é também o produtor usou os azulejos que havia na Quinta Várzea da Pedra, no Bombarral, para criar a imagem do vinho, o que faz uma ponte interessante entre a marca e o território.

Ramos Elegant White 2022

João Portugal Ramos
Tejo
Enólogo: João Portugal Ramos
Design: Philippe Bordonardo
Nem todos os vinhos de bag-in-box têm de ser feios ou maus. Este vinho de exportação para a Escan­dinávia, criado por João Portugal Ramos, combina qualidade e design com preocupações ambientais.

Rosa da Mata Fernão Pires Branco 2020

Rosa Da Mata
Beira Interior
Enólogo: Patrícia Santos
Design: Filipa Pais
Uma das bênçãos deste milénio é podermos olhar descomplexadamente para o país rural das velhinhas de xaile e rebanhos de cabras sem associarmos a isso um estigma de atraso e pobreza. Patrícia Santos não só fez isso mesmo, como integrou a sua Rosa da Mata nas referências do vinho nacional.

Sandeman Porto Fine Tawny 2020

Sandeman – Sogrape
Douro
Enólogo: Luís Sottomayor
Design: Stranger & Stranger
O homem da capa da Sandeman, herdeiro do touro da Osborne que ainda encontramos nas estradas de Espanha, ficou tão assoberbado por lettering, quadrados, dourados e frases decorativas, que perdeu toda a promessa desta grande marca cheia de tradições. Era altura de a recuperarem.

Sercial 1990

Cossart Gordon
Madeira
Enólogo: Francisco Albuquerque
Design: OM Design, Madeira Wine Company
↗ Malmsey

Soalheiro Primeiras Vinhas 2022

Soalheiro
Vinho Verde (Monção e Melgaço)
Enólogo: Luís Cerdeira
Design: Joana Muaze
Um grande vinho verde de uma casa que há mais de 40 anos começou a trabalhar a casta Alvarinho e desde então não deixa de surpreender pelas suas criações, colaborações e criatividade no design de rótulos. Este é, paradoxalmente, um dos mais contidos.

Teixinha Field Blend Tinto 2022, Field Blend Branco 2022, Roupeiro 2022, Aragonês 2022

Herdade da Malhadinha Nova
Alentejo
Enólogo: Luís Duarte, Nuno Gonzales
Design: Mafalda Portal, 327 design
O recurso criativo de colocar nos rótulos desenhos de crianças da família foi depois estendido para incluir textos escritos por elas. Textos Mateus, Benedita, António e João Soares.

Trans-Douro-Express Baixo Corgo 2021, Cima Corgo 2021, Douro Superior 2021

Mateus Nicolau de Almeida
Douro
Enólogo: Mateus Nicolau de Almeida
Design: Paul Hardman
A relação entre produtores de vinho e designers é complexa e interessante. Neste caso, o produtor tinha um pedido simples “um design que parecesse ter saído de uma gráfica.” O designer gráfico e tipográfico Paul Hardman fez-lhe a vontade, num exercício precioso de elegância e understatement.

Tourónio Branco 2022, Tinto 2022

Quinta de Tourais
Douro
Enólogo: Fernando Coelho
Design: Miguel Salazar, Júlio Dolbeth
O uso da totalidade da garrafa, e o aproveitamento expressivo da sua transparência, ajudam a pôr em destaque a ilustração e a transformar este vinho num objecto de arte.

Tyto Alba biológico tinto 2017

Companhia das Lezírias
Tejo
Enólogo: Bernardo Cabral
Design: Rita Rivotti Design
O caso de uma marca feita, evidentemente, em agência, com todo um racional criativo pensado de raiz para um vinho que haveria de chegar. Desde o naming ao packaging (a alusão ao mocho foi completada por uma caixa em formato de um ninho de pássaro, que envolvia algumas garrafas), tudo exuda marketing, porque a vida também é assim.

Thyro Verde 2017

Thyro Wines
Vinho Verde
Enólogo: João Cardoso Lopes
Design: Bárbara Says…
O rótulo deste vinho verde activista foi projectado e ilustrado em 2017 por António Silveira Gomes, designer fundador do atelier Barbara Says… para homenagear os protestos Black Lives Matter. Vinhos com consciência social? Porque não?

Uivo Tinta Francisca 2020

Folias de Baco
Porto e Douro
Enólogo: Tiago Sampaio
Design: High Creative Studio
Um rótulo com imagem poderosa, simbólica, fácil de identificar em prateleira, que apela a sentimentos de rebeldia e transgressão comuns ao movimento dos vinhos naturais e às novas gerações de enófilos.