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O fim da cortiça

Em 2023 a cortiça quase quadruplicou de preço. Após duas campanhas de extracção afectadas pela seca, uma súbita percepção de escassez provocou a compra antecipada em massa deste material, agitando o seu mercado e disparando o seu valor. Entretanto o preço estabilizou mas este evento obriga-nos a pensar sobre a cortiça a partir do duplo significado da palavra fim: o que fazer quando a procura por um recurso renovável ultrapassa a sua oferta, e que usos ou propósitos lhe devemos dar e desejar.

Este artigo procura entender que desafios traz hoje a cortiça ao design, e vice-versa. O core business da indústria corticeira é ainda o fabrico de rolhas; quase tudo o resto deriva do que é feito ao que sobra da casca do sobreiro. Neste século, o aglomerado feito desse resto passou a ser mais do que um material de revestimento, pavimento e isolamento térmico ou acústico. Investimentos significativos em pesquisa, tecnologia e design fizeram da cortiça um material nobre destinado a ser visto, tocado e apreciado num sem-fim de produtos e aplicações. Ao elevar qualidades simbólicas acima de características funcionais, frequentemente de forma contraditória ou caricatural, um sem-número de agentes económicos tem também feito da cortiça um material incontornável, até identitário para muitos portugueses.

Hoje precisamos encontrar um equilíbrio entre as qualidades tanto intrínsecas como projectadas da cortiça para responder a um desafio maior: pensar ao ritmo do sobreiro, salvaguardando o ecossistema do montado para além das tendências efémeras do design, dos discursos vagos da sustentabilidade ou das flutuações imprudentes do mercado.

Este texto é uma sinopse do artigo publicado na Fazer #2, inicialmente redigida para a exposição Fazer #2.
Este e outros artigos desta edição impressa da revista ficarão disponíveis para leitura e partilha online quando a sua tiragem esgotar.