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Design é um verbo

Fazer é um sonho antigo. Começou há mais de uma década como uma ideia, uma inquietação persistente e uma vontade de falar, pensar e debater o design enquanto disciplina que molda, como poucas, o mundo que nos rodeia. Responderia a uma lacuna que nos parecia óbvia: a falta de um fórum aberto para o discurso crítico sobre esta disciplina em português. Num país com mais de cinquenta cursos em design e uma classe profissional abundante, parecia-nos estranho não haver uma arena para discussão. A maior parte das vezes em que o design se aventurava a aparecer nos media, era para mostrar objectos de luxo, inacessíveis, ou homenagear figuras consagradas, inquestionáveis. Mas o design é muito mais do que isso. Merece melhor, e todos nós que o fazemos e que com os seus resultados vivemos, também.

As linhas das nossas vidas e carreiras voltam a cruzar-se. Conhecemo-nos em 2008, numa inauguração na Culturgest – Fundação Caixa Geral de Depósitos, pouco antes de ingressarmos no mesmo mestrado em Crítica de Design da School of Visual Arts, em Nova Iorque. Tivemos a mesma formação em Design de Comunicação – o Frederico na FBAUL, a Vera na FBAUP – e trabalhámos como designers, antes de deixar a prática do design para nos dedicarmos a esta actividade através da escrita, da crítica, da edição, da curadoria e do ensino. Em 2022, o Bruno Marchand, programador de artes visuais da Culturgest, convidou-nos para sermos os cura­ dores da quarta de nove exposições do ciclo Território, organizado pela Culturgest e pela Fidelidade Arte, em Lisboa e no Porto. Foi a oportunidade para finalmente começar algo que há muito queríamos criar: uma revista sobre design em língua portuguesa. Este é o seu primeiro número. 

Fazer procura definir os territórios de agência do design contemporâneo pelas vozes daqueles que lhe dão forma. Propõe focar a atenção de uma esfera pública alargada nas transformações e nos protagonistas que definem a prática do design nas primeiras décadas do século XXI. Pretende abordar como as disciplinas do projecto, nas quais naturalmente incluímos a arquitectura, inter- agem contínua e decisivamente com a tecnologia, o trabalho, o consumo ou o exercício político. 

Pensar uma revista no século XXI requer criatividade. Quisemos pensá-la com a Susana Carvalho e o Kai Bernau, do Atelier Carvalho Bernau, contando com a sua larga experiência em projectar publicações e seus ecossistemas. Muitas são as vozes que exclamam que print is dead – parece­ -nos que é preciso ir além dessa lógica redutora. A editoria não está morta, simplesmente existe de modo disperso, em vários canais e plataformas, onde cada parte reforça um todo que é mais rico por albergar tanta diferença. Assim sendo, a Fazer é uma instituição que primeiramente existe como revista. Mas também como um site, um conjunto de exposições, uma série de eventos, perfis de redes sociais e uma variedade de coisas em que ainda não pensámos ou que ainda não foram inventadas. 

Tanto o primeiro como o segundo número da Fazer foram pensados, partindo do convite da Culturgest e da Fidelidade Arte, enquanto experiências de curadoria como edição, e vice-versa. As exposições antevêem e constroem a edição da revista, convocando os artigos através de artefactos e textos que sintetizam os temas e ideias explorados pelos autores nas páginas deste número, lançado na sua finissage

Os temas e projectos nele incluídos reflectem quatro principais interesses. O primeiro é identificar os protagonistas e os resultados de processos de design que manifestem o impacto contemporâneo desta actividade na sociedade portuguesa. O segundo é abordar o design em toda a sua diversidade disciplinar e profissional. O terceiro é estreitar distâncias persistentes entre vizinhos, como a Espanha ou o Brasil. O quarto, talvez o mais importante, é estimular a consciência, junto de quem estuda e pratica design, de que pertence a uma comunidade – a qual pretendemos servir. 

Ao criar uma nova instituição portuguesa dedicada ao design queremos também informar, inspirar e convocar as suas múltiplas comunidades de profissionais, estudantes e estudiosos a participar activamente em conversas que se estendem muito além da prática. O programa público de eventos que organizámos durante a exposição da Fazer #1 foi apenas o começo dessa vontade. Ainda há muito para falar, e temos muito para dizer. Venham connosco. A nossa história começa agora.