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Todo o design é local

Uma interpretação convencional do design enquanto actividade subentende um distanciamento entre quem projecta e quem produz, tanto no tempo como no espaço. Mas como enuncia a frase “Toda a política é local”, controversamente atribuída ao congressista norte-americano Tip O’Neill (1912-1994), o design pode ser interpretado como uma prática eminentemente situada. A segunda edição da Fazer parte desse princípio para abordar, aqui e agora, as suas causas e consequências.

O nosso segundo passo manifestou-se primeiramente como uma exposição, que decorreu na Culturgest Porto entre 9 de Fevereiro e 12 de Maio de 2024. Nela, quisemos criar um local de encontro e debate, de criação e ampliação de vozes e ideias sobre design e tudo o que o circunda. Quisemos, também, ancorar os conteúdos e temáticas ao contexto que nos acolheu. Nas páginas do nosso segundo número, focamo-nos em questões que tanto são locais à cidade do Porto ou à região Norte de Portugal como a Madrid e Barcelona, Estónia e Suécia. Tal como na Fazer #1, trazemos perspectivas críticas externas a carreiras e projectos nacionais, ampliando a própria ideia de local. E abordamos não só as práticas mas também as políticas que dão contexto, propósito e forma aos seus resultados. 

A cidade e a cidadania podem ser vistas como um leitmotiv desta edição, em que nos debruçamos sobre como definir a imagem de uma cidade, como imaginar o planeamento urbano tendo as crianças como ponto de partida, ou como imaginar respostas à nova crise da habitação olhando para a nossa própria história mas também como ela tem vindo a ser feita por designers e arquitectas noutras partes da Europa. 

Uma secção importante desta edição dedica-se à escola e à inovação. Interessa-nos perceber o que está a ser criado nas escolas de design do país, e para isso lançámos uma open call no início do ano e a partir dela escolhemos dez trabalhos de conclusão de ciclo de estudos. Esta primeira colheita inclui trabalhos recém-concluídos em licenciaturas, mestrados e doutoramentos em design, os quais revelam perspectivas situadas sobre as histórias, as comunidades e os ecossistemas em que vivemos e para os quais projectamos.

Tal como o nosso primeiro número, a Fazer #2 manifestou-se como uma exposição. Graças ao convite da Culturgest e da sua parceria com a Fidelidade Arte, a Fazer encontrou um território fértil onde pôde nascer e iniciar o seu caminho. Estamos por isso gratos e reconhecidos ao Bruno Marchand, que nos convidou a fazer parte do ciclo Território de exposições por ele iniciado, bem como às equipas de produção e comunicação da Culturgest que tão bem nos acolheram e estimularam a pensar e concretizar duas abordagens, editorial e curatorial, ao design. O futuro desenha-se positivo: a nossa periodicidade manter-se-á bianual, com edições em Janeiro e Junho; os próximos dois números da revista estão já planeados e em desenvolvimento. A Fazer #3, dedicada ao design da colonialidade, abordará a persistência do projecto colonial, mas também resistências a este a nível planetário. A Fazer #4 terá uma abordagem bio-regional ao design, entretecendo saberes, discursos e práticas para questionar ideias de indústria, recursos e progresso.

Estas edições manifestar-se-ão como revistas impressas mas também através de formatos associados de convergência, debate e exposição de ideias. Através de tudo isto, queremos reforçar o nosso compromisso para com a comunidade que pretendemos servir. Contamos convosco para o que aí vem.